O Dólar Vai Deixar de Ser a Moeda Mundial?
Entenda o que Está em Jogo no Comércio Exterior
A hegemonia do dólar no comércio internacional tem sido um pilar da economia global por décadas. No entanto, a crescente discussão sobre o fim dessa dominância vem ganhando força em 2025, levantando questões estratégicas sobre o futuro das transações internacionais. Para empresas importadoras e exportadoras, acompanhar esse debate é mais do que curiosidade — é uma necessidade para planejar riscos, custos e oportunidades.
Origem do Poder: Por que o Dólar se Tornou a Moeda de Referência Global
Para entender o debate sobre a desdolarização, é preciso voltar à Conferência de Bretton Woods (1944). Naquele momento, as principais moedas do mundo foram atreladas ao dólar americano, que tinha seu valor vinculado ao ouro. Os EUA, emergindo como potência global e com reservas consideráveis de ouro, garantiram ao dólar a posição de moeda de referência. Mesmo após o fim do padrão-ouro em 1971, o dólar manteve sua supremacia devido à confiança internacional no mercado americano, à estabilidade institucional, ao tamanho de sua economia e à liquidez global que seu uso confere.
Desdolarização em Pauta: Quem Está Liderando e Por Que o Tema Cresceu
A ideia de “desdolarização” — o uso crescente de moedas locais em vez do dólar nas transações internacionais — já existe há alguns anos, mas ganhou novo impulso recentemente. Algumas evidências e declarações recentes:
- O BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) intensificou discussões sobre usar moedas locais em trocas comerciais e financeiras entre seus membros, para reduzir custos de câmbio e diminuir a dependência externa.
 - Mas, segundo representantes brasileiros, como Tatiana Rosito, do Ministério da Fazenda, não há hoje uma política formal de “moeda única” do BRICS ou uma desdolarização abrupta, e sim iniciativas pontuais, ainda com participação pequena no cenário global.
 - Cresce o uso de moedas locais nas transações entre países do BRICS, para reduzir taxas de conversão e simplificar operações financeiras.
 
As motivações mais fortes incluem:
- Reduzir a exposição a políticas monetárias de uma única nação (EUA).
 - Diminuir custos com câmbio e conversões.
 - Aumentar a autonomia financeira e monetária de países emergentes.
 
Possíveis Consequências se a Desdolarização Ganhar Força
Embora seja um processo lento e complexo, alguns impactos já são visíveis, e mais podem surgir:
1. Volatilidade Cambial Aumentada
Sem uma moeda universal de referência, empresas terão de lidar com múltiplos riscos cambiais — flutuações de moedas locais, necessidade de hedge, contratos em moedas divergentes.
2. Fortalecimento de Blocos Regionais
Moedas como o Real, Yuan e Euro podem ganhar relevância em operações intrabloco (por exemplo, entre países do Mercosul, do BRICS ou da área de influência da União Europeia). Isso facilitaria transações regionais mas poderia complicar aquelas feitas com países externos ao bloco.
3. Alterações na Precificação e Estrutura de Custos
Produtos como commodities agrícolas, café, soja, petróleo e matérias-primas, tipicamente precificados em dólar, poderiam ver mudanças significativas. Isso exigiria novo planejamento de preços, contrato, logística, seguro e instrumento de hedge.
4. Impacto Regulatório, Legal e Operacional
Além dos custos financeiros, haverá exigência de adaptação de contratos, sistemas de pagamento, contabilização, normas fiscais, desenho de cadeias logísticas para acomodar operações em múltiplas moedas.
Atualização 2025: Até Onde Já Chegamos?
- O uso de moedas locais para comércio entre países do BRICS já está em prática, embora em percentual relativamente baixo comparado ao volume total de comércio.
 - No Brasil, 2024 registrou que cerca de 95% das exportações ainda foram feitas em dólar mesmo com os discursos de desdolarização.
 - O governo brasileiro incluiu como prioridade dentro da presidência do BRICS de 2025 o desenvolvimento de instrumentos para pagamentos em moedas locais, visando maior interoperabilidade e menor custo nas transações bilaterais.
 
Como Empresas de Comércio Exterior Devem se Preparar
Diante desse cenário em evolução, importadores e exportadores podem adotar algumas medidas estratégicas:
- Analisar contratos internacionais — reveja cláusulas de câmbio, moeda de pagamento, mitigação de risco e penalidades.
 - Modelar cenários cambiais — simulação com diversas moedas para estimar impactos caso parte ou todo o comércio passe a operar em moeda local ou alternativa.
 - Pesquisar parceiros internacionais confiáveis — fornecedores, agentes logísticos e bancos com capacidade de operar em moedas diferentes e facilitar conversões.
 - Atualizar sistemas de gestão e compliance — ERP, sistemas fiscais, contabilidade devem suportar múltiplas moedas e novos requisitos regulatórios.
 - Acompanhar regulamentações internacionais — sanções, sistemas de pagamentos alternativos, acordos bilaterais ou multilaterais podem acelerar ou limitar possibilidades.
 
Não há, por ora, uma mudança abrupta ou universal — o dólar continua predominante em escala global. Mas o movimento de desdolarização já está em curso, com relevância crescente para países emergentes.
Para empresas do comércio exterior, isso significa se posicionar estrategicamente: revisar apólices cambiais, negociar contratos mais flexíveis, investir em tecnologia e buscar parcerias que permitam operações mais ágeis e menos vulneráveis a choques externos.
A Fenícia está atenta a essas mudanças: nossa equipe de especialistas está preparada para orientar empresas a navegar por esse novo cenário, minimizando riscos e aproveitando as oportunidades.
Fontes:
Agência Brasil https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2025-02/brics-deve-avancar-no-uso-de-moedas-locais-entre-os-paises-membros
UOL Economia / Estadão Conteúdo https://economia.uol.com.br/noticias/estadao-conteudo/2025/03/24/tatiana-rosito-presidencia-brasileira-dos-brics-nao-tem-como-objetivo-desdolarizacao.htm
Diário do Povo https://diario.dopovo.com.br/2025/07/23/lula-defende-desdolarizacao-mesmo-com-uso-predominante-do-dolar-no-brasil/